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sábado, dezembro 27, 2003

Quantos diabéticos haverá mesmo em Portugal?

A resposta à pergunta que titula este "post" é complicada de responder. Se o número normalmente referido ronda os 6%, um estudo europeu publicado hoje vem contrariar este número, aumentando-o para os 10%.
O "Público" noticia hoje que cada vez os "Portugueses Sofrem Mais de Reumatismo, Hipertensão e Diabetes", tendo por base um relatório do Eurobarómetro. Lendo o relatório (disponível em http://europa.eu.int/comm/public_opinion/), vemos que 6% da população da UE tem alguma forma de diabetes, enquanto que 10% dos portugueses está a ser tratada devido à diabetes. Esta percentagem é mais elevada do que as estimativas que tinha ouvido até hoje. Seja como for, estamos em primeiro lugar destacadíssimo, seguidos pela Alemanha com 7,8%. (A título de curiosidade: O país de um dos maiores fornecedores de insulina do mundo, a Dinamarca, é aquele com menor incidência de diabetes: apenas 3,7%).
Os dados interessantes vêm a seguir: A incidência da diabetes, do reumatismo e artrite e da hipertensão está associada com o nível dos rendimentos, sendo maior para pessoas com rendimentos menores. Ou seja, as classes sociais mais baixas são as mais afectadas por estas doenças. Associado a este dado está também a estatística que diz que estas mesmas doenças têm também maior incidência entre a população com menor nível educacional.
Apesar de Portugal ter a maior população com doenças crónicas a nível europeu, somos dos que menos vão ao médico (apenas somos "batidos" pela Irlanda e pela Grécia).
E quantas pessoas fizeram uma glicemia no último ano? Em Portugal, 19,7% fizeram-na incluída em análises pedidas pelo médico (acima da média europeia que é de 12,1%), 7,6% por iniciativa própria (6,5% na UE) e 0,6% no âmbito de rastreios (UE 3,7%). Portugal é dos países em que se fazem menos exames médicos.
Finalmente, ficamos a saber que o português médio engordou 1,78kg desde 1996, sem ter havido um crescimento notório em termos de altura. Continuamos a ser os mais baixos da Europa, mas já não somos os mais leves (ficamos mais pesados que os franceses e irlandeses).
A alimentação dos portugueses foi a que menos mudou nesse mesmo período, apesar de acharmos que temos peso a mais e hábitos alimentares razoãveis.
Há muitos mais resultados neste relatório, relacionados ou não com a diabetes, mas o mais importante penso estar aqui resumido. Se forem ao sítio refrido, podem fazer o download do relatório e ver mais detalhes.
Os resultados deste estudo têm por base entrevistas porta-a-porta feitas a nível europeu (16370 em toda a UE), realizadas em Janeiro e Fevereiro deste ano. Em Portugal, a sondagem esteve a cargo da Metris, que efectuou 1000 entrevistas.

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quarta-feira, dezembro 10, 2003

O prometido é devido

Já há muitos "posts" (mais um anglicismo para a nossa língua) que ficou a promessa de fazer um relato das 1ªs Jornadas. Aqui vai ele. Em breve, haverá ainda mais informações no sítio www.viverdiabetes.web.pt.
Viver a Diabetes é o que nós fazemos todos os dias, às vezes com, outras contra, dependendo da nossa disposição. Por isso, estas jornadas, as primeiras realizadas em Portugal para diabéticos, tiveram o título “Viver a Diabetes” e “convocados” estavam todos os que, de alguma maneira, vivem a diabetes: Diabéticos tipo I e tipo II, denominações que já conhecemos, mas também os de tipo III (familiares, amigos, namorados, etc.) e tipo IV (os profissionais de saúde que nos acompanham).
O dia foi recheado com palestras dedicadas a diversos temas: Após as boas-vindas dadas pelo Presidente da AJDP, Nuno Lemos, a Drª Sílvia Saraiva discorreu sobre os “Aspectos controversos no controlo da diabetes”, focando os aspectos-base do tratamento da diabetes - exercício físico, alimentação e medicamentação - defendendo a ideia que, com a diversidade de insulinas já disponíveis no mercado, um diabético informado e consciente não tem limitações de nenhuma ordem e pode viver feliz sem obstáculos impostos pela diabetes. A diabetes que, segundo a mesma médica, não é uma doença quando bem-controlada, já que, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) uma doença é algo que reduz o bem-estar.
De seguida, sobre o tema “Diabetes e obesidade” discursou o Dr. José António Silva Nunes, referindo com preocupação as estatísticas que, a nível mundial, relatam um aumento da obesidade relacionado com o aumento dos doentes diabéticos tipo II, atingindo cada vez pessoas mais jovens e até mesmo crianças nos países mais industrializados. Os diferentes medicamentos orais para tratamento da diabetes foram referidos, bem como a sua acção, lembrando a importância do excesso de peso no desenvolvimento da resistência à acção da insulina.
Antes do almoço, bem a propósito aliás, chegou a vez de falar de alimentação. A responsável foi a Drª Eunice Simões, dietista, que falou da “Alimentação na Diabetes”. A mensagem principal foi aquela que muitos de nós já conhecemos: Um diabético não tem nenhuma dieta especial, como se fosse uma pessoa doente, mas aquela que qualquer pessoa saudável deve ter: Equilibrada, seguindo a descrição da famosa pirâmide alimentar. Quanto mais controlado e informado estiver, mais normalizada pode ser a alimentação, sem alimentos proibidos, apenas evitáveis, como o são para qualquer pessoa.
A seguir ao almoço, a alimentação da sociedade moderna continuou debaixo de fogo, pois, na óptica da Drª Luísa Cortesão, é esta um dos factores importantes nas “Consequências tardias da diabetes”, tema da sua palestra. Como a principal razão para as complicações habituais da diabetes (retinopatia, nefropatia, neuropatia, trombose, ...) é a arteroesclerose, ou seja, o entupimento das artérias, é esta que deve ser evitada, o que significa um bom controlo, não apenas da glicemia, mas de outros marcadores metabólicos, tais como o colesterol. Contudo, foi também criticada a luta cega ao colesterol, no qual a indústria alimentar recorre à substituição das gorduras por outras moléculas, às quais a prelectora chamou “lixo alimentar”. Foi um ponto alto, chamando a atenção para a necessidade de uma visão crítica e informada da alimentação, dando o mote também para muitas perguntas por parte da plateia.
Menos polémica, mas nem por isso menos informativa e interessante, foi a apresentação do Enfermeiro Manuel Esteves Cardoso sobre os “Cuidados a ter com os pés”. Sendo uma pessoa com vasta experiência no acompanhamaneto de diabéticos, com especial atenção para os pés, falou do que está errado e correcto no tratamento dos pés e suas lesões, desfazendo alguns mitos e, mais que tudo, chamando atenção para a necessidade de olhar pelos nossos pés sem vergonha.
A importância do exercício físico voltou a ser tema de conversa, não fosse a prática do mesmo objectivo da AJDP desde antes da sua fundação. “Diabetes e exercício físico” foi o pretexto para a Drª Silvia Saraiva, falar da importância do mesmo no controlo (e prevenção) da diabetes, referindo como se passou da visão antiquada de uma diabético fraco, que não deve fazer exercício, para a actual, no qual um bom controlo metabólico exige esforço físico. A apoiar esta posição estiveram diversos jovens diabéticos de todo o mundo a falar da sua experiência pessoal, tal como a prática de alpinismo, desporto em equipa, corrida e triatlo.
Para finalizar estas 1ªs Jornadas, o psiquiatra Dr. Rui Durval falou dos diversos problemas emergentes em indivíduos com doenças crónicas, tal como a diabetes: As diferentes fases de reacção perante o conhecimento da doença, a importância da família e dos amigos, etc. Este discurso deu o mote para o debate “Vivência da Diabetes”, muito participado, com relatos das atitudes das pessoas perante a diabetes e lembrando a ignorância de parte da sociedade sobre este problema, acabando por tocar no tema quente da discriminação de que os diabéticos ainda são, por vezes, alvo.
Em resumo (estas primeiras jornadas) foram um sucesso, tendo sido muitos os incentivos para mais iniciativas do mesmo género, ficando claro, desde já, que para o ano haverá as 2ªs Jornadas.

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